segunda-feira, 24 de novembro de 2008

30 de setembro de 2008


30 de setembro de 2008
Fui à sala dos meus futuros parceiros de pesquisa entreguei os Termos de Consentimento e falei sobre como funcionaria a pesquisa. Sentia-me novamente nervosa. Mas, só um pouco... Esse pouco de quantidade também é um pouco de qualidade... Foram longos meses de preparo... Alguns anos de envolvimento solitário... E agora eu colocaria em vista tantas questões... tantas possibilidades... A maior angústia que sinto agora é a necessidade de escolha... Como pode o pesquisador, que levanta tantas possibilidades internas... que se embrica tanto com o tema... como pode escolher só um caminho? Minha incompletude é minha angústia.
Penso nas questões teoria x prática: É claro que uma completa a outra, aliás, lembro que a teoria traz em si a prática o que torna impossível falar de algo sem “vivê-lo”. Talvez por isso segui o caminho mais dificil (obrigada Hiran por ter comprado comigo essa possibilidade), mesmo sabendo que eu poderia falar apenas do que via na Rede (e que “só” isso daria uma pesquisa inteira...) foi a possibilidade da fala dos jovens me encantou... Aliás, refletindo sobre meus próprios anseios vejo que eu mesma penso em estar retratada nessas falas... O que se define juventude? Se forem os desejos e anseios do coração sinto-me jovem... Tão jovem em certos momentos... E tanto tanto velha em mim mesma...
Porém, é claro que se há várias formas de ser jovem (BOCK, 1992), penso que minha juventude não é como a de meus sujeitos de pesquisa... Afinal meu modo de ser no mundo é um modo que inclui ter filhos, marido e afins... E os modos de ser de meus parceiros? Qual seus os modos de ser jovem?
Volto ao problema do inicio: NECESSIDADE DE ESCOLHA. Não posso me aprofundar nisso, mas tento observar também esses aspectos. Penso que estamos unindo em nossas discussões a beleza da juventude e a dor da violência... O que vai sair disso?


BOCK, Ana; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria. Psicologias. Uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1992.

Imagem: Pablo Picasso - Dança da Juventude - 1966

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

02 de setembro de 2008


02 de setembro de 2008

Falei hoje oficialmente com os jovens e os convidei para fazerem parte da pesquisa “A Violência Sexual na internet na Fala dos Jovens”.

Claro que eu já havia comentado e tentado dar a eles a idéia de que eles seriam meus parceiros numa pesquisa desde que entrei no mestrado. Mas, na época eu ainda não sabia ao certo como a pesquisa se desenvolveria. Os jovens sempre foram muito receptivos... Porém, confesso que, apesar de trabalhar o tempo todo com pessoas (professores, alunos, gestores...) foi difícil conversar com eles... Olhos brilhantes me sugerem responsabilidade...

Mudou um pouco minha disposição no momento que os vi tão animados, tão dispostos... Foi muito bom... Senti que encontrei um tom para a melodia... Marquei o dia para oficializar as questões burocráticas (consentimentos e afins); depois começaremos o trabalho propriamente dito.

É na adolescência que começamos a aprender a escolher livremente. É um aprendizado que nunca termina, talvez porque escolher é uma das tarefas mais difíceis da vida. [...] (BECKER, 1994, p. 94).

Pensando em escolhas penso no Pinóquio. Não se assustem. Pinóquio é uma História belíssima e podemos refletir sobre ela de várias maneiras:

O mestre Cereja descobre em sua oficina uma madeira mágica. Assustado e intrigado presenteia o amigo Gepeto com seu achado. Gepeto fica espantado e feliz: Fabricaria uma marionete viva e viajaria o mundo com sua atração. Mas, nem bem começa a esculpi-la e o travesso boneco foge!

Pinóquio vai se envolver em muitas confusões: venderá a cartilha que ganha para ir à escola e acabará no Grande Teatro de Marionetes; sentirá muita fome; sofrerá de frio e da solidão humana. Muitas travessuras e confusões acontecerão ao longo de toda a história, além disso, o detalhe pelo qual Pinóquio ficará mais conhecido: seu nariz cresce quando mente.

Porém, Pinóquio aprende, em fim, a ouvir sua consciência (o grilo falante) aprende a trabalhar e a estudar, cuida de seu pai e dá todas as suas economias para ajudar a Fada Azul. Nesse momento recebe aquilo que mais deseja: Torna-se enfim um menino de verdade.

Com mais de 120 anos Pinóquio já foi traduzido em muitas línguas e inspirou outras histórias. A mais conhecida é a animação de Walt Disney do ano de 1940 que afasta-se da história original ao procurar ser mais singela. Além dessa versão outras famosas são o filme "Le Avventure di Pinocchio", de 1972, cujo atores principais são Andrea Balestri como Pinocchio, Gina Lollobrigida como a Fada e Nino Manfredi como Geppetto.1

Numa versão contemporânea Pinóquio inspirou o filme "A.I. - Inteligência Artificial" de Spielberg no qual encontramos um robô criança que queria ser um menino de verdade e amado como tal.

O personagem principal dessa história, Pinóquio, é um boneco de madeira em plena luta da aprendizagem de viver, ele só passará a ser gente quando ficar maduro. Amadurecer: amar e crescer.

Pinóquio quer crescer, mas não sabe como; ele pede para ser humano como uma dádiva da fada azul, porém, não é assim que funciona: é preciso apreender, fazer escolhas, buscar, experimentar. Não há outro caminho.

Pinóquio é castigado por suas posturas rebeldes. Talvez seja uma indicação de como a sociedade vê a adolescência: Um período em que deve-se adaptar à ideologia dominante, mas do que isso, à única ideologia que deve existir é a dominante. Mas:

Ora, o adolescente ainda está, em geral menos “enfeitiçado” pelo sistema ideológico. Já a maioria dos adultos está por demais envolvida pela ideologia que lhe orienta o pensamento e a ação, de tal forma que seus valores lhe parecem absolutamente verdadeiros, lógicos e inquestionáveis. (BECKER, 1994, p. 68).

Pergunto-me: Os jovens com os quais estou começando a trabalhar pensam assim? Eles sentem dessa maneira? E eu? Sinto-me assim?


BECKER, Daniel. O que é adolescência. 11. ed. - São Paulo: Brasiliense, 1994.

1 Carlo Collodi, é o autor de "Aventuras do Pinóquio", italiano de em Florença, nascido em 1821. Seu sobrenome é, também o nome da cidade em que sua mãe nasceu e ele mudou seu nome quando criança (seu nome era Carlo Lorenzini). Aos 50 anos, começou a escrever para crianças.
Em 1881, publicou o primeiro capítulo da "Storia di un Burattino" ("História de uma Marionete"), em "Giornale per i Bambini" ("Jornal para Crianças", um dos primeiros da época). Desconhece-se o ilustrador. Após dois anos Collodi juntou os 36 capítulos e lançou sua fábula com novo nome. A primeira edição de Pinóquio é de 1883 com o título: "Le Avventure di Pinocchio" ("As Aventuras de Pinóquio"), ilustrações de Enrico Mazzanti.